top of page
Buscar

BELEZA

  • Foto do escritor: Elizangela M. Ottonelli
    Elizangela M. Ottonelli
  • 25 de mar. de 2018
  • 4 min de leitura

Substantivo feminino.

  1. qualidade, propriedade, caráter ou virtude do que é belo; manifestação característica do belo.

  2. caráter do ser ou da coisa que desperta sentimento de êxtase, admiração ou prazer através dos sentidos.

  3. característica daquilo que possui harmonia, proporção, simetria, imponência etc.

  4. qualidade do ser ou da coisa que suscita a admiração e um sentimento de adesão por seu valor moral ou intelectual.


ree

Sandro Botticelli. O nascimento de Vênus.1486. Têmpera sobre tela.172,5 cm × 278,9 cm. Galleria degli Uffizi, Florença.




" O homem é um animal de contemplação, de ação e de produção. Das obras que produz, umas são para uso ou benefício do corpo – são as artes chamadas servis –, enquanto outras são para uso ou benefício de seu espírito – são as artes ditas liberais. Entre estas, há aquelas que, mediante o belo, visam a fazer o homem propender ao bom e ao verdadeiro, e, mediante o horrendo, visam a fazê-lo afastar-se do mau e do falso: são as Artes do Belo, ou seja, a Literatura, o Teatro, o Cinema, a Música, a Dança (Balé), a Pintura, a Escultura e, por certo ângulo, a Arquitetura." Carlos Nouguè¹

Há algum tempo, eu assisti ao documentário no qual filósofo e escritor inglês Roger Scruton levanta várias questões sobre a importância da beleza e como ela interfere em nossa vida cotidiana, e suas palavras me deixaram inquieta com esse tema. O ideal de beleza mudou muito ao longo da história e, como diz Umberto Eco no livro "A História da Beleza", numa mesma época e até mesmo no mesmo país, podem coexistir diversos ideais estéticos, mas a questão não é essa. Segundo Scruton, a beleza é uma necessidade universal do ser humano e tem o poder de nos afastar, mesmo que momentaneamente, das mazelas e do caos mundano.


ree

Edouard Léon Cortes. Rue D'ulm Pantheon. (1935). Pintura a óleo sobre tela.



Sendo a Arquitetura, em partes, uma Arte do Belo, ela deve também se preocupar com a beleza e as sensações de quem a vivencia, e isso inclui a preocupação com a Paisagem Urbana, cuja contemplação todos nós compartilhamos. Não é à toa que alguns arquitetos, psicólogos e neurocientistas estão unidos investigando as reações do nosso cérebro perante diferentes ambientes, como reagimos a diferentes dimensões do espaço, proximidade e outros aspectos que podem influenciar na percepção e no uso dos ambientes. A estes estudos chamamos "neuroarquitetura".


Mas apesar da beleza ter sido essencial para a nossa civilização por mais de 2000 anos, em determinado momento ela deixou de ser importante.


"A beleza partiu para duas direções: para o culto da feiura nas artes, e para o culto da utilidade no cotidiano. Estes dois cultos foram, juntos, para o mundo da arquitetura. Na virada do século XX, tanto arquitetos, como artistas começaram a ficar impacientes com a beleza e a substituí-la pela utilidade. O arquiteto americano, Louis Sullivan, expressou a crença dos modernistas quando disse que "a forma segue a função"" Roger Scruton²


ree

Antes e Depois da cidade de Haia, na Holanda, após uma reestruturação em prol dos pedestres. Imagem da Startup Urb-i.



O caso mais notório do fracasso de um grande projeto pensado nesses moldes é o do conjunto habitacional Pruitt Igoe, construído na década de 1930 e demolido em 1972 com a justificativa de que seus espaços abertos entre os blocos de torres modernistas desestimularam o senso de comunidade, culminando em alto índice de criminalidade.


"A falta de visão comportamental por trás dos projetos habitacionais modernistas naquela época, com seu senso de isolamento da comunidade e espaços públicos mal concebidos, faz com que muitos deles, nas palavras do artista britânico Tinie Tempah, que cresceu em um desses prédios, pareçam “projetados para que você não seja bem-sucedido”". Michael Bond


ree

Programa Habitacional Flor de Pequi III, Nova Mutum - MT. Foto de Everton Almeida.


A Arquitetura, o Urbanismo e a Arquitetura da Paisagem são substancialmente utilitários, pois tratam dos ambientes onde moramos, trabalhamos, nos deslocamos e nos divertimos, e deve funcionar para essas atividades. Mas se a beleza, ou a ausência dela, pode afetar nosso humor e bem-estar, como podemos projetar espaços sem considerá-la?


Não se trata de projetar edifícios e cidades para serem exclusivamente belos, mas para que sejam agradáveis ao olhar, eficientes em suas funções e estimulantes ao convívio entre as pessoas. Há pesquisas em curso que apontam que a vida urbana pode ter fortes impactos biológicos no nosso cérebro, aumentando consideravelmente as chances de desenvolver esquizofrenia, e sugere o maior risco de doenças como a depressão e a ansiedade crônica em quem cresce em grandes cidades.


Seria muita pretensão dizer que um belo projeto pode curar os males da população urbana, mas é provável que bons espaços públicos e cidades mais belas, onde as pessoas se sintam bem e possam ter mais contato com a natureza, contribua na formação de uma sociedade onde as pessoas convivam melhor e tratem com mais respeito umas às outras.



ree

Parco Sempione, em Milão/IT. Foto de Alessandro Stefano Guerrato.


__________________________________________________________________________________

1. NOUGUÈ, Carlos. Das Artes do Belo. <http://edicoes.santotomas.com.br/>


2. SCRUTON, Roger. Documentário: Why Beauty Matters <https://www.youtube.com/watch?v=bHw4MMEnmpc&t=>


3. BOND, Michael. The hidden ways that architecture affects how you feel. <http://www.bbc.com/future/story/20170605-the-psychology-behind-your-citys-design>


4. ABBOTT, Alison. City living marks the brain. <http://www.nature.com/news/2011/110622/full/474429a.html>


5. NOVA ACRÓPOLE - Escola de Filosofia Internacional – Palestra da Profª. Lúcia Helena Galvão. Por que a beleza importa? <https://www.youtube.com/watch?v=szFpezm_yAU>


 
 
 

4 comentários


Elizangela M. Ottonelli
Elizangela M. Ottonelli
27 de mar. de 2018

Belo comentário, tia! Saudades...

Curtir

mkanieski
mkanieski
27 de mar. de 2018

Beleza

Só os artistas a definem com precisão e sabem que sem o natural não se faz o belo

...

Curtir

Elizangela M. Ottonelli
Elizangela M. Ottonelli
26 de mar. de 2018

Ótima questão, João! Mas será que é possível limitar a urbanização? Se a cidade é um organismo dinâmico, é possível controlar seu crescimento? Eu acho que não...

Brasília por exemplo, foi projetada para um número limitado de pessoas, mas desde a sua inauguração já se via o surgimento das "cidades satélite". Eu acho que o que precisamos é nos reconhecer na natureza, afinal fazemos parte dela, e continuar buscando maneiras de conviver em harmonia. Há diversas teorias para cidades com menor impacto no ambiente natural: cidades verdes, compactas, inteligentes, resilientes, sensíveis à água... infelizmente estamos longe disso por aqui, mas para um bom começo de reflexão eu acho válida a citação de um trecho do livro "Jardim de Granito" de…

Curtir

Joao Lucas Carvalho Neves
Joao Lucas Carvalho Neves
26 de mar. de 2018

A Questão é: Qual o limite da urbanização, quando viver em meio a natureza é a resposta? Lindo texto Eli!

Curtir

© 2023 by Jessica Priston. Proudly created with Wix.com

bottom of page